segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Poesia Parnasianas

Parnasianismo brasileiro


Na segunda metade do século XIX, o contexto sociopolítico europeu mudou profundamente. Lutas sociais, tentativas e revolução, novas idéias políticas, científicas... O mundo agitava-se e a literatura não podia mais, como no tempo do Romantismo, viver de idealizações, do culto do eu e da fuga à realidade. Era necessária uma arte mais objetiva, que atendesse ao desejo do momento: o de analisar, compreender, criticar e transformar a realidade. Como resposta a essa necessidade, nascem quase ao mesmo tempo três tendências anti-românticas na literatura, que se entrelaçam e se influenciam mutuamente: o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo.

Diferentemente do Realismo e do Naturalismo, que se voltavam para o exame da realidade, o Parnasianismo representou na poesia o retorno à orientação clássica, ao princípio do belo na arte, à busca do equilíbrio e da perfeição formal.

Os parnasianos acreditavam que o sentido maior da arte reside nela mesma, em sua perfeição, e não no mundo exterior.

Se examinarmos a seqüência histórica da arte e da literatura, veremos que elas se constroem a partir de ciclos. O homem está sempre rompendo com aquilo que considera ultrapassado e propondo algo novo Contudo, esse novo, muitas vezes, não passa de algo ainda mais velho, revestido de uma linguagem diferente.

Assim foi o Parnasianismo no Brasil, na década de 80 do século XIX. Depois da revolução romântica, que impôs novos parâmetros e valores artísticos, surgiu em nosso pais um grupo de poetas parnasianos que desejava restaurar a poesia clássica, desprezada pelos românticos.

Os parnasianos achavam que certos princípios românticos, como a busca de uma poesia mais acessível, da paisagem nacional, de uma língua brasileira, dos sentimentos, tudo isso teria feito perder as verdadeiras qualidades da poesia. Em seu lugar propõem, então, uma poesia objetiva, de elevado nível vocabular, racionalista, perfeita do ponto de vista formal e voltada a temas universais.

A “arte pela arte”

Apesar de contemporâneos, o Parnasianismo difere profundamente do Realismo e do Naturalismo. Enquanto esses movimentos se propunham a analisar e compreender a realidade social e humana, o Parnasianismo se distancia da realidade e se volta para si mesmo. Defendendo o princípio da “arte pela arte”, os parnasianos achavam que o objetivo maior da arte não é tratar dos problemas humanos e sociais, mas alcançar a “perfeição” em sua construção: rimas, métrica, imagens, vocabulário seleto, equilíbrio, controle das emoções, etc.

Observação: “Arte sobre a Arte”

Distanciados dos problemas sociais, alguns parnasianos dedicam-se a tematizar em seus poemas a própria arte. Por exemplo, descrevem com precisão obras de arte, como vasos, peças de escultura, lápides tumulares, bordados, etc. Nesse caso, trata-se de uma restrição ainda maior do princípio da “arte pela arte”, que se transforma em “arte sobre a arte”.

A influência clássica

A origem da palavra Parnasianismo associa-se ao Parnaso grego, segundo a lenda, um monte da Fócida, na Grécia central, consagrado a Apolo e às musas. A escolha do nome já comprova o interesse dos parnasianos pela tradição clássica. Acreditavam que, assim, estariam combatendo os exageros de emoção e fantasia do Romantismo e, ao mesmo tempo, garantindo o equilíbrio desejado, por se apoiarem nos modelos clássicos.

Contudo a presença de elementos clássicos na poesia parnasiana não ia além de algumas referências a personagens da mitologia e de um enorme esforço de equilíbrio formal. Pode-se afirmar que não passava de um verniz que revestiu artificialmente essa arte, como forma de garantir-lhe prestígio entre as camadas letradas do público consumidor brasileiro.

A “Batalha do Parnaso”

As idéias parnasianas já vinham sendo difundidas no Brasil desde os anos 70 do século XIX. Contudo foi no final dessa década que se travou no jornal Diário do Rio de Janeiro uma polêmica literária que reuniu, de um lado, os adeptos do Romantismo e, de outro, os adeptos do Realismo e do Parnasianismo. O saldo da polêmica, que ficou conhecida como Batalha do Parnaso, foi a ampla divulgação das idéias do Realismo e do Parnasianismo nos meios artísticos e intelectuais do país.

A primeira publicação considerada parnasiana propriamente dita é a obra Fanfarras (1882), de Teófilo Dias. Entretanto caberia a Alberto de Oliveira, Raimundo Correia, Olavo Bilac, Vicente de Carvalho e Francisca Júlia o papel de implantar e solidificar o movimento entre nós, bem como definir melhor os contornos de seu projeto estético.

Observação: abolicionismo, república e vasos gregos

Vale lembrar que o Parnasianismo se firmou no Brasil na década de 80 do século XIX. Nesse momento se davam as lutas sociais decisivas pela abolição da escravatura e pela república. Apesar disso, o parnasiano Alberto de Oliveira afirmou: “Eu hoje dou a tudo de ombros, pouco me importam paz ou guerra e não leio jornais”. Distante dos problemas sociais, Alberto de Oliveira descreve então seu “Vaso grego”.

A linguagem da poesia parnasiana

A poesia parnasiana pretende ser universal. Por isso utiliza uma linguagem objetiva, que busca a contenção dos sentimentos e a perfeição formal. Seus temas são, igualmente, universais: a natureza, o tempo, o amor, objetos de arte e, principalmente, a própria poesia.

Observação: a máquina de fazer versos

O poeta modernista Oswald de Andrade, em seu Manifesto da Poesia Pau-Brasil, desfere várias críticas aos poetas parnasianos, dentre as quais a rigidez formal excessiva e a falta a liberdade no ato da criação poética. Diz ele, ironicamente: “Só não me inventou uma máquina de fazer versos – já havia o poeta parnasiano”.

(In Literatura Brasileira, de William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães, Editora Atual, 1995)

Cronologia

Início: 1882, publicação do livro Fanfarras, de Teófilo Dias.

Término: 1893, início do Simbolismo no Brasil.

Principais escritores:

Olavo Bilac

Raimundo Correia

Alberto de Oliveira

Vicente de Carvalho

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